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domingo, 13 de outubro de 2013

NOVO CARU – Bom Jardim - Maranhão

Por Adilson Motta

O povoado Novo Caru foi fundado em 1º de maio de 1963 pelo lavrador Raimundo Nonato Pinheiro, conhecido pela alcunha de Didico, e recebeu o nome de Centro do Dico, com a chegada de moradores para o lugar, o povoado foi crescendo em população.
            Sendo o rio o único fluxo para o crescimento do lugar, seus moradores em homenagem ao rio Caru deram ao povoado o nome de novo Caru. O povoado faz fronteira com outros povoados como: Rapadurinha, Nova Vida, Barra do Galego e a reserva indígena Caru.
            No principio, o povoado seguia em marcha ascendente, no comércio, na indústria de beneficiamento de arroz, na produção agrícola e em população. Era lancha chegando quase que diariamente trazendo migrante do Ceará, Piauí e de vários lugares do próprio Maranhão, atraídos pela abundância de matas e terras devolutas ali existentes. Tais migrantes trouxeram consigo os seus costumes, suas crenças, enfim, suas cultura. A partir daí, com o passar do tempo, firmou-se a cultura de novo Caru. Essa cultura baseia-se em danças típicas nordestinas como as quadrilhas (nas festas juninas), o Bumba-meu-boi e em comidas típicas como cuxá, tapioca (beiju), cuscuz dentre outras iguarias.
            Com o rápido crescimento, foram instaladas várias casas comerciais, sendo as principais: Casa Branca, Casas Matos, Casa Vera Cruz (com eletrodoméstico) os quais vendiam todos os artigos de primeira necessidade e outros como calçados, bebidas, confecções, alumínio, etc. Nos anos 70 a 73 os comerciantes enriqueceram por especulações. As mercadorias eram trocadas com os agricultores pelo arroz (no acelerado, antes da colheita). Em novo Carú o movimento era acelerado, havia muitos hotéis, bares, boates, dois clubes para recreação e festa: o Canutão e o Clube Recreativo Boa Vontade (CRB), duas usinas para o beneficiamento de arroz do Sr. Manoel Vera Cruz e a do Sr. José de Deus. Atualmente Novo Carú apresenta morosidade no seu desenvolvimento, existindo ainda, várias casas comerciais.
            Em 1976, na administração do Prefeito Miguel Alves Meireles foi instalada a iluminação elétrica através de um motor a óleo DIESEL. Em 30 de abril 1983, de acordo com a Lei nº 27, Novo Caru foi elevado à categoria de distrito.  O povoado Novo Caru apresentava muitos setores (povoados) aos seus redores que aqueciam e mobilizavam a economia local.  Esses setores, no entanto, desapareceram e o desenvolvimento em Novo Caru caiu em declínio, devido às terras haverem passados para as mãos de proprietários e posseiros e também pela inexistência de matas que foram devoradas pelos lavradores. Muitos moradores mudaram-se do lugar, e os grandes comerciantes fecharam suas portas mudando-se para Santa Inês e outras cidades desenvolvidas a fim de instalar seus evoluídos comércios.
Atualmente no povoado existem três igrejas: Igreja Católica, Assembleia de Deus e um templo Adventista. As festas tradicionais de Novo Carú são as novenas do mês de maio, quaresma, festas e rezas com terços e ladainhas.
A padroeira do lugar é Nossa Senhora da Conceição, cujo festejo é realizado no dia 8 de Dezembro.  Até 2007, a dirigente da Igreja Católica no povoado foi Maria de Fátima Pires Santos. 
O acesso ao referido povoado é feito via estrada vicinal, abertas da cidade de Bom Jardim a Rapadurinha. Até o povoado Rapadurinha a estrada é empiçarrada (com constantes falhas). Deste a Novo Carú a estrada é carroçal. No inverno são maiores as viagens via Rio Carú e Pindaré. A distância do povoado à zona urbana do município é de 57 km.
A principal atividade econômica do lugar é a agricultura para o cultivo do arroz, feijão, milho e a mandioca que, depois do abastecimento do mercado local, o excedente é exportado para a sede do município, outras principais atividades são a quebra de coco babaçu e a pesca no rio Carú que se constituiu uma fonte para a sobrevivência dos Novocaruenses e também a pecuária com pequenas fazendas com criação de bovinos e suínos.
Grande parte dos agricultores do Povoado dependem de terras localizadas à outra margem do rio, precisamente na Reserva Indígena do Carú habitada por índios da etnia guajajara. Os chefes das aldeias "cedem" parte da terra para os lavradores numa transação chamada "renda' que acontece de forma que o lavrador deixa para o chefe um terço da produção da lavoura".
Por outro lado, outros lavadores trabalham para grandes proprietários, recebendo o que lhes é devido em duas situações, a primeira consiste em diárias no valor que varia entre R$ 7,00 e R$ 10,00. Em segundo, e a paga com a própria produção em "renda", ou seja, o lavrador recebe entre um meio e um terço da produção total dependendo do "acordo" feito entre o proprietário e o lavrador.
Uma relação de dominação e posse. De acordo com isso e sobre o mito vivenciado nessa relação, cita FREIRE (1983 p. 1983, p. 172):
"Na verdade, estes pactos não são diálogos porque,... está inscrito o interesse inequívoco da classe dominadora. Os pactos,... são meios para realizar suas finalidades".

Há diálogo quando há acordo, e quando ambos os lados são beneficiados sem prejuízo a nenhuma das partes envolvidas. Ou seja, a classe detentora dos meios de produção e capital em contraste com aquelas que possuem apenas a força de trabalho como mercadoria a oferecer, encontra-se em posição de submissão "espontânea", frente à situação ditada pelo capital e a necessidade de "ter que trabalhar" para a sobrevivência, que no silêncio,  abraça o sistema de coisas que está posta, apesar das amplas conquistas "tão asseguradas nas letras da Magna Carta".  Pactos estes, fundamentados na desigualdade social e na situação de pobreza, ausência de terras e capital na mão da maioria, que é a classe pobre e predominante.  (Grifo meu – Adilson Motta)
Na busca pelo "ter as coisas" muitos jovens e adultos abandonam os estudos para se dedicarem ao trabalho, por entenderem que a escola não proporciona tais ambições impostas na subjetividade deles de maneira a se realizarem. Portanto, não entendem que é através da aquisição do conhecimento, da visão de mundo crítico-coerente que realmente podem mudar suas percepções de vida e a situação ou realidade.
Daí explica-se que dos 36 alunos do EJA (Educação de Jovens e Adultos) de 1ª a 4ª série em 2004 no povoado Novo Caru, 44,4% desistiram e 13,8% evadiram-se. Esses dados são a marca registrada tanto do pensamento supracitado, quanto do abandono, da ausência de políticas públicas educacionais e de juventude no sentido de que se encontrem soluções para essas mazelas. Fato este, processando-se ao longo de sucessivos governos. Sendo o exposto apenas um retalho do que ocorre no contexto maior, assim como em nível de Estado e Nordeste. Sendo filhos do analfabetismo, os mesmos têm direito de acesso e, no entanto, não têm de sucesso.
Frente à situação difícil em que se encontram, tais jovens não tendo como conciliar estudo e trabalho, os últimos por ser difícil, terminam abandonando a escola. Pois não enxergam a educação como saída, e nem tão pouco têm estímulo e incentivo para continuar. Não percebem que há uma intenção ideológica "desinteressada" controlando imperceptivelmente os acontecimentos, que os leva a não enxergar a escola como tal "saída" e "instrumento de mudanças". Nesse sentido, veja que diz FREIRE (1983 p. 173):
A manipulação aparece como uma necessidade imperiosa das elites dominantes, com o fim de, através dela, conseguir um tipo não autêntico de "organização", com que evite o seu contrário, que é a verdadeira organização das massas populares emersas e emergindo.
Dentro dessa perspectiva, eles tendem a deixar o povoado indo para outros municípios, estados e, até mesmo, outros países, como, por exemplo, Mato Grosso, Pará, Roraima e Suriname. Nos estados de Matos Grosso e Pará, eles encontram serviços em madeireiras, fazendas e em serrarias. No Suriname, trabalham como garimpeiros na extração de ouro. Este é o mais cobiçado dos trabalhos, pois acreditam conseguir prosperidade em pouco tempo.
Todos querem arriscar a sorte grande, para isso deixam pais, esposa filhos, acreditando-se "... que todos são livres para trabalhar onde queiram. Se não lhes agrada o patrão, podem então deixá-lo e procurar outro emprego". FREIRE (1983 147). Em muitos casos, por faltas de alternativas, os referidos trabalhadores se submetem permanecer nas atividades, tudo isso, por conta do desamparo de políticas de geração de emprego e renda de uma política agrícola que prenda o homem do campo no campo, e leve as condições e benefícios da zona urbana para a vida do campo. O exposto é apenas uma pequena amostra de um contexto maior.
O povoado Novo Caru dispõe hoje (2005) de três escolas municipais num total de 9 salas de aula. Tem também um posto de saúde, uma praça e uma subdelegacia de polícia.
No aspecto educacional, as escolas refletem o contexto municipal, de administrações sucessivas, não dispondo de biblioteca publica, nem de livros gratuito que cubra toda rede de ensino, o que dificulta o processo ensino-aprendizagem nesse povoado e aumenta a insatisfação dos moradores que aspiram melhoria.
A juventude encontra-se dispersa, dividida entre trabalho duro do campo no período diurno e a ociosidade dos que não estudam no período noturno. Por falta de opções no que diz respeito à diversão, muitos desses jovens procuram os bares quase que regularmente, e alguns a se entregar ao alcoolismo.
Não é muito e custa pouco, mas o sonho maior daquela comunidade é que os governantes do município façam um cais na beira rio e empiçarrem a estrada de Novo Cau ao povoado Rapadura – pois, no inverno,  fecham-se as saídas de acesso,  quando o rio não está cheio.
Em fins de 2006, a administração Roque Portela fez uma obra  que para muitos novocaruenses  foi de grande importância, segundo a população carente que foi:  empiçarrou todas as ruas do povoado e fez duas pontes de acesso dentro do povoado.  Se o pouco gera satisfação, imaginem o que seria se fosse feito o que se pode fazer.

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