Por Adilson Motta, 08/09/2005
A
vocação gregária do homem incontestavelmente foi a grande circunstância
que cedeu e garantiu o lugar da organização e da estruturação das
primeiras comunidades ou sociedades. Segundo Santos (2000, p.44), "a
ideologia surgiu com o homem e, por isso mesmo, está visceralmente nele
entranhada". E acrescenta: "A linguagem surgiu pela necessidade de
externar o homem a sua ideologia (do seu clã, do seu grupo, etc)".
(Idem, 2000, p.44).
Para já, urge que se compreenda que a
interdependência homem/ideologia é de natureza tão forte, remota e
profunda, que o primeiro, na segunda se encrava e vice-versa. A
propósito da questão, a referida autora (Ibidem 2000, p.44-45) escreve:
"o homem é já a sua própria ideologia independente de ser ele um
ideólogo, um adepto ou aliado dela, ou um mero consumidor passivo".
Deste modo, as sociedades segundo a mesma, são norteadas pelas
ideologias.
À guisa de muitas fermentações pertinentes às
atividades humanas, as transformações sociológicas dão azo a fluição de
ideologia, razão porque esta, semelhantemente à linguagem, será sempre
um processo. (Ibidem 2000, p.45)
Segundo a referida autora,
(Ibidem, p.45), pela sua origem, pelo seu espaço e pela sua função, a
ideologia, enquanto processo, posiciona-se num constante fazer-se. Deste
modo, constitui-se ela pilar básico da história da humanidade. E
acrescenta: "É ela responsável pela feitura e manutenção das classes
sociais, por cuja ação assegura o movimento da sociedade civil".
(Ibidem, p. 45).
Analisando a questão ideológica no
campo político, Edwaldo Cafezeiro, professor Titular da UFRJ em Santos
(2000, p. 9), verifica:
[...] a falta de uma
consciência ideológica dos partidos políticos, onde um deputado
conservador é da mesma opinião que do partido liberal -‘todos filhos da
mesma mãe, a Dona Conveniência'.
A toda e qualquer
prática de uma sociedade subjacente está uma ideologia. Segundo a mesma,
(Idem, p. 46-47), "é do seu encargo tanto a formação quanto a
conformação da consciência, das atitudes e dos comportamentos do homem,
cuja finalidade é adaptá-lo ou acomodá-lo às condições reais de
existência social, que é a sua e tudo via linguagem".
Por
irromper-se das malhas das relações sociais, a ideologia é também como a
linguagem, considerada um fato social. É um certo modo de produção das
ideias pela sociedade. Neste particular, no tocante à questão a referida
autora cita:
"A sociedade é vista como um grande laboratório que
fabrica, amolda, burila, analisa, consome, difunde e exporta ideologia
possuidoras de lógica e eficácia particulares." (Ibidem 2000 p. 47).
Assim, observa-se que ideologia, homem e linguagem se entrelaçam e se
reclamam, fundindo-se no seio da interação social. Dentro desse
pressuposto, Braga (apud SANTOS, 2000, p. 48) ao verificar a relação
sociedade, ideologia e linguagem afirma que: "[...] numa sociedade de
classes, ideologia é sempre a da classe dominante, pois é essa, através
do usufruto do poder, que dá nome e sentido às coisas".
Espraiado nos acontecimentos, verifica-se na atualidade, que a relação
ideológica de dominação e manipulação não são instrumentos apenas de
poderes políticos instituídos. Existe um poder bem maior que controla e
influencia tanto setores políticos quanto os caminhos no destino de uma
nação chamado MÍDIA. Onde o monopólio dos meios de
comunicação de massa e a influência do poder político sobre a mídia são
fatores que comprometem a existência de uma opinião verdadeiramente
pública no país. É nesse sentido que se afirma que a mídia é
o mais poderoso instrumento de formação de opinião pública. Peguemos
como item comprobatório apenas a eleição de 1989, na farsa do "caçador
de marajás" enfeitado na mídia para ganhar opinião pública e com isso a
eleição de um país, como aconteceu. Os meios de comunicação mostraram
seu poder, ou seja: deram uma aula de como se "fabrica um candidato".
Informação é poder, eles (políticos) sabem disso. Não é à toa que,
segundo o Projeto Donos da Mídia – que lidera um grupo de pesquisadores,
(09/2008), o número de políticos donos de Rádio e TV no Brasil cresce.
Os números mostram que já são 271 os políticos brasileiros que são
sócios ou diretores de 348 emissoras de Rádio e TV. Desses, 147 são
prefeitos (54,24%), 55 deputados estaduais (20,3%), 48 deputados
federais (17,71%), 20 senadores (7,38%) e um é governador. Fora aqueles
que colocam suas emissoras em nome de parentes, amigos ou
"testas-de-ferro". Dominar a mídia é uma forma de controle social.
A ideologia, nesse sentido, se transforma numa força quase impossível
de remover decorrendo dos seguintes aspectos, segundo analisa Marilena
Chauí (1980 p.113-114):
Enquanto o trabalhador for aquele que "não
pensa" ou que "não sabe pensar", ou que "pensa e não contesta", e o
pensador for aquele que não trabalha, a ideologia não perderá sua
existência nem sua função; O que torna objetivamente possível à
ideologia é a alienação...
Analisando aqueles que vão
de encontro às ideologias de poder e dominação institucionalizada, veja o
que verifica Santos (2000 p. 48):
Na posição de contra ideologia,
há as ideologias particulares. Por não emergirem do poder, lhes é
sonegada a capacidadede impor-se socialmente por vários instrumentos da
oficialização. Com isso, as suas bandeiras de lutas apresentam-se como
que insignificantes bem assim, aparentemente são sufocadas pelas
justificativas advindas do poder instituído.
Observando a não detenção da cultura letrada e suas consequências na
vida pessoal e social do indivíduo falante, veja o que diz Maria Rita
Santos, quando usa a palavra ler no sentido de entender, analisando à
luz da ideologia o posicionamento do indivíduo em tal situação:
[...]
não sabendo ler, também não saberá usar a linguagem e por essa trilha,
consumirá sem questionamento a ideologia do poder vigente sem o mínimo
poder de formulação de contra ideologia (posicionamento crítico diante
do discurso do outro). (Idem 2000, p.21-22).
Assim
também defendia Che (Revolução Cubana), quando afirma que: "um povo que
não sabe ler nem escrever é um povo fácil de ser enganado".
Argumentando a consequência da ideologia sobre a consciência Capalbo (apud SANTOS, 2000, p.99) registra:
"[...]
ela levará a consciência a fechar-se em si mesma, em seu mundo, ela
conduzirá o homem ao sectarismo, aos processos de manifestação para a
"conversão" dos outros ao seu mundo, ela será o oposto da libertação".
O indivíduo é apenas uma peça na engrenagem do organismo social, sua
personalidade dissolve-se na totalidade. O coletivismo tem servido de
base a todas as ideologias totalitárias dos tempos modernos, tais como:
socialismo, comunismo, fascismo, sindicalismo etc. Ideologias essas, que
erigiram e conquistaram o poder com os discursos de uma linguagem
sofista, onde a miséria social servia de estética a discursos, e no
fundo 'vazios' de intenção e consciência.
Quando grande
parte da população fica à margem do mundo letrado e os homens são
impedidos de se constituírem enquanto sujeitos, há que se
(re-)considerar a exclusão social, um processo nem sempre evidente pela
sutileza de seus mecanismos constituídos dentro e fora da escola. Mais
do que conhecer as letras, as regras ortográficas, sintáticas ou
gramaticais, o ensino da língua escrita requer a assimilação das
práticas sociais de uso, contribuindo assim para a conquista de um novo
status na sociedade (Soares, 1998). É nesse sentido que se afirma, que a
prática da leitura e da escrita imbuídos de uma pedagogia libertadora e
crítico social são pontes para chegar-se ao porto seguro da cidadania.
Observando-se que a alienação é um fator que alimenta e fortalece a
ideologia dominante, verifica-se a (des-)preocupação com a educação
social, segundo cita Marcushi (2001, p.24) onde ele afirma que a
educação pode ser útil ou preocupante aos governantes. Isto sugere que a
apropriação de escrita ou a educação da sociedade é um fenômeno
ideologizável.
Dentro desta observação, veja o que
cita Manguel (apud Veja, 7 jul.1999): "...Ter acesso à palavra escrita
significa a possibilidade de dominar um instrumento de poder chamado
linguagem formal. É na linguagem formal que estão escritos os códigos,
as leis de um país. Manter uma grande parte da população no
analfabetismo é uma das maneiras utilizadas por governantes que querem
perpetuar-se no poder, sem sofrer ameaças". É a ignorância "desejada"
numa aparente "não-intencionalidade" por razões ideológicas.
Não é à toa, mas, em pleno século XXI, no cenário da política
maranhense houve políticos que votaram e agiram contra a educação, ou
usaram(-am) a ausência parlamentar, como omissão ou forma de fugir à
responsabilidade do compromisso social assumido no ato das eleições.
A educação irá alimentar na sociedade esclarecimento e consequentemente
a busca pela "liberdade" que reside na usufruição da cidadania, que vem
pela informação e consciência da realidade social, direitos e deveres,
resultando na formação de contra ideologias, tornando mais difícil a
vida dos demagogos. Educação e democracia se intercruzam, pois a
democracia é o regime que garante a liberdade de todos escolherem seus
governantes. Mas só existe liberdade quando se pode optar. E só existe
opção quando se tem informação. Por isso a educação é um dos pilares
básicos da democracia.
Além dos relevantes pontos
citados sobre a importância da educação na liberdade e emancipação dos
povos, veja o que ficou afirmado na Conferência Episcopal
Latino-Americana:
"... a educação é efetivamente o meio-chave para
libertar os povos de toda servidão e para fazê-lo ascender de
condições de vida menos humanas para condições mais humanas, tendo em
conta que o homem é o responsável e o artífice principal de seu êxito
e de seu fracasso. Para tanto, a educação deve ser criadora, aberta ao
diálogo e afirmativa das peculiaridades locais, procurando capacitar
as novas gerações para a mudança permanente e orgânica que o
desenvolvimento supõe...( ) A educação é, pois, a maior garantia para o
desenvolvimento das pessoas e do progresso, que são as conquistas
culturais da humanidade". (COSTA, 1994, p. 49,50)
Neste caso, no
tocante à educação, é obrigação dos poderes públicos promovê-la a todos
como dever de justiça, e da escola oferecer ao aluno o padrão culto por
questão ideológica e social.
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