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segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Função Ideológica da Linguagem

      Por   Adilson Motta, 08/09/2005 


A vocação gregária do homem incontestavelmente foi a grande circunstância que cedeu e garantiu o lugar da organização e da estruturação das primeiras comunidades ou sociedades. Segundo Santos (2000, p.44), "a ideologia surgiu com o homem e, por isso mesmo, está visceralmente nele entranhada". E acrescenta: "A linguagem surgiu pela necessidade de externar o homem a sua ideologia (do seu clã, do seu grupo, etc)". (Idem, 2000, p.44).
Para já, urge que se compreenda que a interdependência homem/ideologia é de natureza tão forte, remota e profunda, que o primeiro, na segunda se encrava e vice-versa. A propósito da questão, a referida autora (Ibidem 2000, p.44-45) escreve: "o homem é já a sua própria ideologia independente de ser ele um ideólogo, um adepto ou aliado dela, ou um mero consumidor passivo". Deste modo, as sociedades segundo a mesma, são norteadas pelas ideologias.
À guisa de muitas fermentações pertinentes às atividades humanas, as transformações sociológicas dão azo a fluição de ideologia, razão porque esta, semelhantemente à linguagem, será sempre um processo.  (Ibidem 2000, p.45)
Segundo a referida autora, (Ibidem, p.45), pela sua origem, pelo seu espaço e pela sua função, a ideologia, enquanto processo, posiciona-se num constante fazer-se. Deste modo, constitui-se ela pilar básico da história da humanidade. E acrescenta: "É ela responsável pela feitura e manutenção das classes sociais, por cuja ação assegura o movimento da sociedade civil".  (Ibidem, p. 45).
           Analisando a questão ideológica no campo político, Edwaldo Cafezeiro, professor Titular da UFRJ em Santos (2000, p. 9), verifica:

 [...] a falta de uma consciência ideológica dos partidos políticos, onde um deputado conservador é da mesma opinião que do partido liberal -‘todos filhos da mesma mãe, a Dona Conveniência'.
           A toda e qualquer prática de uma sociedade subjacente está uma ideologia. Segundo a mesma, (Idem, p. 46-47), "é do seu encargo tanto a formação quanto a conformação da consciência, das atitudes e dos comportamentos do homem, cuja finalidade é adaptá-lo ou acomodá-lo às condições reais de existência social, que é a sua e tudo via linguagem".
         Por irromper-se das malhas das relações sociais, a ideologia é também como a linguagem, considerada um fato social. É um certo modo de produção das ideias pela sociedade. Neste particular, no tocante à questão a referida autora cita:
"A sociedade é vista como um grande laboratório que fabrica, amolda, burila, analisa, consome, difunde e exporta ideologia possuidoras de lógica e eficácia particulares." (Ibidem 2000 p. 47).
           Assim, observa-se que ideologia, homem e linguagem se entrelaçam e se reclamam, fundindo-se no seio da interação social. Dentro desse pressuposto, Braga (apud SANTOS, 2000, p. 48) ao verificar a relação sociedade, ideologia e linguagem afirma que: "[...] numa sociedade de classes,  ideologia é sempre a da classe dominante, pois é essa, através do usufruto do poder, que dá nome e sentido às coisas".
             Espraiado nos acontecimentos, verifica-se na atualidade, que a relação ideológica de dominação e manipulação não são instrumentos apenas de poderes políticos instituídos.  Existe um poder  bem maior que controla e influencia tanto setores políticos quanto os caminhos no destino de uma nação chamado MÍDIA.   Onde o monopólio dos meios de comunicação de massa e a influência do poder político sobre a mídia são fatores que comprometem a existência de uma opinião verdadeiramente pública  no país. É nesse sentido que se afirma que a mídia é o mais poderoso instrumento de formação de opinião pública.  Peguemos como item comprobatório apenas a eleição de 1989, na farsa do "caçador de marajás" enfeitado na mídia para ganhar opinião pública e com isso a eleição de um país, como aconteceu. Os meios de comunicação mostraram seu poder, ou seja: deram uma aula de como se "fabrica um candidato".
         Informação é poder, eles (políticos) sabem disso. Não é à toa que, segundo o Projeto Donos da Mídia – que lidera um grupo de pesquisadores, (09/2008), o número de políticos donos de Rádio e TV no Brasil cresce.  Os números mostram que já são 271 os políticos brasileiros que são sócios ou diretores de 348 emissoras de Rádio e TV.  Desses, 147 são prefeitos (54,24%), 55 deputados estaduais (20,3%), 48 deputados federais (17,71%), 20 senadores (7,38%) e um é governador. Fora aqueles que colocam suas emissoras em nome de parentes, amigos ou "testas-de-ferro".  Dominar a mídia é uma forma de controle social.
            A ideologia, nesse sentido, se transforma numa força quase impossível de remover decorrendo dos seguintes aspectos, segundo analisa Marilena Chauí (1980 p.113-114):
Enquanto o trabalhador for aquele que "não pensa" ou que "não sabe pensar", ou que "pensa e não contesta", e o pensador for aquele que não trabalha, a ideologia não perderá sua existência nem sua função; O que torna objetivamente possível à ideologia é a alienação...
           Analisando aqueles que vão de encontro às ideologias de poder e dominação institucionalizada, veja o que verifica Santos (2000 p. 48):
Na posição de contra ideologia, há as ideologias particulares. Por não emergirem do poder, lhes é sonegada a capacidadede impor-se socialmente por vários instrumentos da oficialização. Com isso, as suas bandeiras de lutas apresentam-se como que insignificantes bem assim, aparentemente são sufocadas pelas justificativas advindas do poder instituído.   
           Observando a não detenção da cultura letrada e suas consequências na vida pessoal e social do indivíduo falante, veja o que diz Maria Rita Santos, quando usa a palavra ler no sentido de entender, analisando à luz da ideologia o posicionamento do indivíduo em tal situação:

[...] não sabendo ler, também não saberá usar a linguagem e por essa trilha, consumirá sem questionamento a ideologia do poder vigente sem o mínimo poder de formulação de contra ideologia (posicionamento crítico diante do discurso do outro). (Idem 2000, p.21-22).

Assim também defendia Che (Revolução Cubana), quando afirma que: "um povo que não sabe ler nem escrever é um povo fácil de ser enganado".
           Argumentando a consequência da ideologia sobre a consciência Capalbo (apud SANTOS,  2000, p.99) registra:
"[...] ela levará a consciência a fechar-se em si mesma, em seu mundo, ela conduzirá o homem ao sectarismo, aos processos de manifestação para a "conversão" dos outros ao seu mundo, ela será o oposto da libertação".
           O indivíduo é apenas uma peça na engrenagem do organismo social, sua personalidade dissolve-se na totalidade. O coletivismo tem servido de base a todas as ideologias totalitárias dos tempos modernos, tais como: socialismo, comunismo, fascismo, sindicalismo etc. Ideologias essas, que erigiram e conquistaram o poder com os discursos de uma linguagem sofista, onde a miséria social servia de estética a discursos, e no fundo 'vazios' de intenção e consciência.
          Quando grande parte da população fica à margem do mundo letrado e os homens são impedidos de se constituírem enquanto sujeitos, há que se (re-)considerar a exclusão social, um processo nem sempre evidente pela sutileza de seus mecanismos constituídos dentro e fora da escola.  Mais do que conhecer as letras, as regras ortográficas, sintáticas ou gramaticais, o ensino da língua escrita requer a assimilação das práticas sociais de uso, contribuindo assim para a conquista de um novo status na sociedade (Soares, 1998). É nesse sentido que se afirma, que a prática da leitura e da escrita imbuídos de uma pedagogia libertadora e crítico social são pontes para chegar-se ao porto seguro da cidadania.
            Observando-se que a alienação é um fator que alimenta e fortalece a ideologia dominante, verifica-se a (des-)preocupação com a educação social, segundo cita Marcushi (2001, p.24) onde ele afirma que a educação pode ser útil ou preocupante aos governantes. Isto sugere que a apropriação de escrita ou a educação da sociedade é um fenômeno ideologizável.
            Dentro desta observação, veja o que cita Manguel (apud Veja, 7 jul.1999): "...Ter acesso à palavra escrita significa a possibilidade de dominar um instrumento de poder chamado linguagem formal. É na linguagem formal que estão escritos os códigos, as leis de um país. Manter uma grande parte da população no analfabetismo é uma das maneiras utilizadas por governantes que querem perpetuar-se no poder, sem sofrer ameaças". É a ignorância "desejada" numa aparente "não-intencionalidade" por razões ideológicas.
            Não é à toa, mas, em pleno século XXI, no cenário da política maranhense houve  políticos que votaram  e agiram contra a educação, ou usaram(-am) a ausência parlamentar, como omissão ou forma de fugir à responsabilidade do compromisso social assumido no ato das eleições.
          A educação irá alimentar na sociedade esclarecimento e consequentemente a busca pela "liberdade" que reside na usufruição da cidadania, que vem pela informação e consciência da realidade social, direitos e deveres, resultando na formação de contra ideologias, tornando mais difícil a vida dos demagogos. Educação e democracia se intercruzam, pois a democracia é o regime que garante a liberdade de todos escolherem seus governantes. Mas só existe liberdade quando se pode optar. E só existe opção quando se tem informação. Por isso a educação é um dos pilares básicos da democracia.
          Além dos relevantes pontos citados sobre a importância da educação na liberdade e emancipação dos povos, veja o que ficou afirmado na Conferência Episcopal Latino-Americana:
"... a educação é efetivamente o meio-chave para libertar os povos de toda servidão e para fazê-lo ascender de condições  de vida menos humanas para condições mais humanas, tendo em conta que o homem  é o responsável  e o artífice  principal de seu êxito e de seu fracasso.  Para tanto, a educação deve ser criadora, aberta ao diálogo e afirmativa das peculiaridades  locais, procurando capacitar as novas gerações para a mudança permanente e orgânica  que o desenvolvimento supõe...( )  A educação é, pois, a maior garantia para o desenvolvimento das pessoas e do progresso,  que são as conquistas culturais da humanidade". (COSTA, 1994, p. 49,50)
Neste caso, no tocante à educação, é obrigação dos poderes públicos promovê-la a todos como dever de justiça, e da escola oferecer ao aluno o padrão culto por questão ideológica e social.





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