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terça-feira, 15 de outubro de 2013

A decadência Agrícola em Bom Jardim



Livros de Adilson Motta Disponíveis no site:


                                                           Por Adilson Motta, 13/07/2006


O livro RADIOGRAFIA DE UMA CIDADE BRASILEIRA, enfoca um capítulo que aborda dados da economia bonjardinense - nestes são  abordados indicadores que revelam a má distribuição das terras, oriundas de um processo histórico que se formou ao longo da história municipal, a queda na produtividade e pesquisas, as quais - consubstanciadas em relatos, explicam a decadência agrícola em Bom Jardim.  A qual reflete  a grande desigualdade  social e número de excluídos existentes no município; inclusive dados evolutivos pesquisados em fontes oficiais como: IBGE, Prefeitura Municipal de Bom Jardim, órgãos de Estado como GEPLAN (Gerência de Planejamento).  O município já teve expressiva produtividade de arroz no sistema manual. Apesar dessa produtividade ter sido através de uma forma  tradicional ou primitiva, assim como noutros municípios maranhenses, tal fato ostentou ao município um título que informalmente  poucos conhecem, de ter sido o maior produtor  de arroz no sistema manual não só a nível de Estado e Brasil, como também da América Latina.  Comprovando o exposto, veja o que diz o senhor Ozimo Jansen, ex-vereador e ex-funcionário da Fazenda Estadual na época, que relata uma reportagem que ouvira na Rádio Nacional de Brasília, em 1982, assim como outras pessoas:
"Em 18 de março de 1982, ouvi na Rádio Nacional de Brasília uma entrevista com um técnico do Ministério da Agricultura. Quando o repórter o questiona sobre qual o município do Brasil, naquele momento era tido como o maior produtor de arroz no sistema manual. A resposta foi:
"O município de Bom Jardim, no Estado do Maranhão  é considerado o maior produtor  de arroz no sistema manual, não só do Maranhão e do Brasil, mas também da América Latina".  
              Atualmente o município não ostenta mais esse título, devido uma variante de fatores, entre eles, o desamparo de política  agrícola ao longo de sucessivos governos; a expulsão do homem do campo, empobrecimento do solo, o uso de técnicas ultrapassadas ou  primitivas (através de roças sob queimadas), expropriação das terras a latifundiários e fazendeiros que detém grandes extensões improdutivas;  e uma baixa renda familiar, que denota a situação de extrema pobreza.  Comprovando o fato, não é à-toa, que o município detém indicadores sociais assustadores, comparados com a média nacional. Esse é o Bom Jardim de 40 anos de  emancipação que falta emancipar-se daqueles que não têm compromisso".  Veja os dados abaixo:
IDH: 0,647 (2000)
Posição no rank nacional: 5.464º
Rank no Estado: 203º
Índice de Analfabetismo: 42,5% (IBGE/2000)
Índice de analfabetismo 2010: 31,84%
Renda capita: R$: 535,47 (IBGE/2000)
             Percebe-se no decurso da história municipal, a ausência de políticas planejadas e a altura, voltadas para combater o problema que levou a essa decadência; ou uma política de reversão da situação. Chega-se portanto, à conclusão que este "círculo vicioso de situação" vá longe, caso persista o referido desamparo (como acontece).
             Observou-se em relatos e informações anteriores, que o município já teve seu tempo áureo,  relacionado à economia agrícola. Ao analisar que Bom Jardim sofreu decadência econômica relacionada à  agricultura, é de suma importância a busca  por explicações no tocante ao fato, que se processou gradual e lentamente, na dinâmica da contradição "não contrariada"; fatos estes, que se esclarecem através de relatos de antigos e atuais líderes políticos que acompanharam a trajetória histórica e econômica do município.
ECONOMIA BONJARDINENSE
Veja gráficos abaixo que comprovam a queda  na produção agrícola no município de Bom Jardim:
Produto arroz:
1993: 18.826 ton.
1994: 34.800 ton.
1995: 36.240 ton.
2000: 8.044 ton.
2006: 8.140 ton.
Fonte: Sinopse Estatística do Maranhão/IPES.  Prefeitura Municipal e GEPLAN/2006.
              Os indicadores acima não constam dados do "período áureo" da agricultura no município, que datam da origem aos anos 80.  Se compararmos a tabela da produção agrícola com a pecuária, chegaremos  a conclusão de que houve uma inversão de cultura. Ou seja, a agricultura foi e continua sendo suplantada  pela pecuária a cada ano no município. Os fazendeiros são na maioria pessoas ricas e de condição média.  Os agricultores, na maioria,  pessoas de baixa renda.  A grande concentração de terras, às vezes improdutivas nas mãos de poucos exclui uma grande maioria da possibilidade de viver dignamente e produzir com sustentabilidade na terra.
 Pecuária
Bovinos: nº de    cabeças/ano:
1993: 59.716 cabeças
1994: 62.702 cabeças
2000: 75.133 cabças
2005: 141.230                               Fonte: IBGE/2005.
             Observa-se uma evolução crescente na produção bovina do município.  Sendo que nos primeiros dias de sua história, eram insignificantes os indicadores  nessa cultura.
             Comparando os dados da agricultura com os da pecuária conclui-se o que foi citado anteriormente "substituição de cultura".  Ou seja, houve uma drástica queda na produção agrícola, porém, em contrapartida, a pecuária se mantém num constante crescimento.
Apresentando ela um grande peso na receita do município. Veja abaixo dados da economia municipal distribuída por setores:
Agropecuária:  77,4%
Agricultura: 56,4%
Indústria: 03%
Serviços: 22,3%               Fonte: IBGE/2005
            Acerca dos problemas agrícolas no município como: queda na produção, elevação na pecuária, e expropriação das terras dos agricultores,  veja o que dizem antigos moradores e líderes políticos, conhecedores dessa realidade e da política local e sua evolução histórica. Os quais dão possíveis explicações para a dinâmica de tais acontecimentos em nível de Bom Jardim, que é apenas um possível retalho do que pode ter acontecido em outros municípios.
Resumo dos relatos que explicam a queda na produção agrícola no
município de Bom Jardim:
v  No princípio, grande número de agricultores apossaram-se das terras, dantes devolutas.  E seguiram na marcha produtiva, num processo de agricultura primitiva, que ainda hoje se arrasta, amparado com política agrícola pouco significativa, que fosse (ou seja) capaz de dar à agricultura seu devido potencial produtivo,  que não só de subsistência, mas de valor comercial para a exportação e gerar receita para o município.  No chamado "tempo áureo" da economia agrícola no município quanto a grande produção de arroz,  as terras eram do povo, razão essa das grandes safras  que o município já apresentou (mesmo sendo na forma primitiva  e com as grandes roças sob queimadas).
             No transcorrer dos anos, com a ausência de políticas públicas capazes e eficientes  no setor agrícola que  amparasse o homem do campo no sentido  fixá-lo no campo, levou-os a expropriarem –se de suas terras, vendendo-as a latifundiários e fazendeiros que iam comprando com a "situação".
v  Na relação entre lavradores e comerciantes, muitos comerciantes enriqueceram, pois os lavradores, através de suas necessidades básicas vendiam na palha sua produção agrícola  como arroz, em troca das compras e produtos de  primeira necessidade como: querosene, açúcar, foice, machado, cotelo,  remédio, roupas e possíveis empréstimos em dinheiro. Fato este, que levou muitos lavradores a se endividarem,  (tendo consequentemente que se expropriarem de suas terras).
Independente das "situações" houve também casos de pressão por parte de latifundiários e fazendeiros que, quando os agricultores não  queriam vender suas terras por livre  "necessidade", eram pressionados a vender por livre "pressão". 
Há na educação do campo a ausência de um currículo disciplinar que eduque os habitantes para a vida e a função no campo. E para isto, uma ideia que defendo para o problema da educação rural além da implantação de técnicas agrícolas na grade curricular, é a implantação de EFAs – Escola Família Agrícola –que  é realidade em muitos estados brasileiros e vem dando certo há mais de 40 anos.  É um projeto que se fundamenta na pedagogia da alternância e embasa projeto político para a comunidade rural a partir do papel social da escola. Essa pedagogia e ou projeto valoriza a história local, modelo cultural e padrão de respeito aos direitos do homem do campo sem excluí-lo dos benefícios da cidade.  Não é simples pedagogia que se apresenta e sim também, uma ação política para o homem do campo que se integra nesse modelo.

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