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Por Adilson Motta, 13/07/2006
O
livro RADIOGRAFIA DE UMA CIDADE BRASILEIRA, enfoca um capítulo que
aborda dados da economia bonjardinense - nestes são abordados
indicadores que revelam a má distribuição das terras, oriundas de um
processo histórico que se formou ao longo da história municipal, a queda
na produtividade e pesquisas, as quais - consubstanciadas em relatos,
explicam a decadência agrícola em Bom Jardim. A qual reflete a grande
desigualdade social e número de excluídos existentes no município;
inclusive dados evolutivos pesquisados em fontes oficiais como: IBGE,
Prefeitura Municipal de Bom Jardim, órgãos de Estado como GEPLAN
(Gerência de Planejamento). O município já teve expressiva
produtividade de arroz no sistema manual. Apesar dessa produtividade ter
sido através de uma forma tradicional ou primitiva, assim como noutros
municípios maranhenses, tal fato ostentou ao município um título que
informalmente poucos conhecem, de ter sido o maior produtor de arroz
no sistema manual não só a nível de Estado e Brasil, como também da
América Latina. Comprovando o exposto, veja o que diz o senhor Ozimo
Jansen, ex-vereador e ex-funcionário da Fazenda Estadual na época, que
relata uma reportagem que ouvira na Rádio Nacional de Brasília, em 1982,
assim como outras pessoas:
"Em 18 de março de 1982, ouvi na
Rádio Nacional de Brasília uma entrevista com um técnico do Ministério
da Agricultura. Quando o repórter o questiona sobre qual o município do
Brasil, naquele momento era tido como o maior produtor de arroz no
sistema manual. A resposta foi:
"O município de Bom
Jardim, no Estado do Maranhão é considerado o maior produtor de arroz
no sistema manual, não só do Maranhão e do Brasil, mas também da América
Latina".
Atualmente o município não ostenta
mais esse título, devido uma variante de fatores, entre eles, o
desamparo de política agrícola ao longo de sucessivos governos; a
expulsão do homem do campo, empobrecimento do solo, o uso de técnicas
ultrapassadas ou primitivas (através de roças sob queimadas),
expropriação das terras a latifundiários e fazendeiros que detém grandes
extensões improdutivas; e uma baixa renda familiar, que denota a
situação de extrema pobreza. Comprovando o fato, não é à-toa, que o
município detém indicadores sociais assustadores, comparados com a média
nacional. Esse é o Bom Jardim de 40 anos de emancipação que falta
emancipar-se daqueles que não têm compromisso". Veja os dados abaixo:
IDH: 0,647 (2000)
Posição no rank nacional: 5.464º
Rank no Estado: 203º
Índice de Analfabetismo: 42,5% (IBGE/2000)
Índice de analfabetismo 2010: 31,84%
Renda capita: R$: 535,47 (IBGE/2000)
Percebe-se no decurso da história municipal, a ausência de políticas
planejadas e a altura, voltadas para combater o problema que levou a
essa decadência; ou uma política de reversão da situação. Chega-se
portanto, à conclusão que este "círculo vicioso de situação" vá longe,
caso persista o referido desamparo (como acontece).
Observou-se em relatos e informações anteriores, que o município já teve
seu tempo áureo, relacionado à economia agrícola. Ao analisar que Bom
Jardim sofreu decadência econômica relacionada à agricultura, é de suma
importância a busca por explicações no tocante ao fato, que se
processou gradual e lentamente, na dinâmica da contradição "não
contrariada"; fatos estes, que se esclarecem através de relatos de
antigos e atuais líderes políticos que acompanharam a trajetória
histórica e econômica do município.
ECONOMIA BONJARDINENSE
Veja gráficos abaixo que comprovam a queda na produção agrícola no município de Bom Jardim:
Produto arroz:
1993: 18.826 ton.
1994: 34.800 ton.
1995: 36.240 ton.
2000: 8.044 ton.
2006: 8.140 ton.
Fonte: Sinopse Estatística do Maranhão/IPES. Prefeitura Municipal e GEPLAN/2006.
Os indicadores acima não constam dados do "período áureo" da
agricultura no município, que datam da origem aos anos 80. Se
compararmos a tabela da produção agrícola com a pecuária, chegaremos a
conclusão de que houve uma inversão de cultura. Ou seja, a agricultura
foi e continua sendo suplantada pela pecuária a cada ano no município.
Os fazendeiros são na maioria pessoas ricas e de condição média. Os
agricultores, na maioria, pessoas de baixa renda. A grande
concentração de terras, às vezes improdutivas nas mãos de poucos exclui
uma grande maioria da possibilidade de viver dignamente e produzir com
sustentabilidade na terra.
Pecuária
Bovinos: nº de cabeças/ano:
1993: 59.716 cabeças
1994: 62.702 cabeças
2000: 75.133 cabças
2005: 141.230 Fonte: IBGE/2005.
Observa-se uma evolução crescente na produção bovina do município.
Sendo que nos primeiros dias de sua história, eram insignificantes os
indicadores nessa cultura.
Comparando os dados da
agricultura com os da pecuária conclui-se o que foi citado anteriormente
"substituição de cultura". Ou seja, houve uma drástica queda na
produção agrícola, porém, em contrapartida, a pecuária se mantém num
constante crescimento.
Apresentando ela um grande peso na receita do município. Veja abaixo dados da economia municipal distribuída por setores:
Agropecuária: 77,4%
Agricultura: 56,4%
Indústria: 03%
Serviços: 22,3% Fonte: IBGE/2005
Acerca dos problemas agrícolas no município como: queda na produção,
elevação na pecuária, e expropriação das terras dos agricultores, veja o
que dizem antigos moradores e líderes políticos, conhecedores dessa
realidade e da política local e sua evolução histórica. Os quais dão
possíveis explicações para a dinâmica de tais acontecimentos em nível de
Bom Jardim, que é apenas um possível retalho do que pode ter acontecido
em outros municípios.
Resumo dos relatos que explicam a queda na produção agrícola no
município de Bom Jardim:
v
No princípio, grande número de agricultores apossaram-se das terras,
dantes devolutas. E seguiram na marcha produtiva, num processo de
agricultura primitiva, que ainda hoje se arrasta, amparado com política
agrícola pouco significativa, que fosse (ou seja) capaz de dar à
agricultura seu devido potencial produtivo, que não só de subsistência,
mas de valor comercial para a exportação e gerar receita para o
município. No chamado "tempo áureo" da economia agrícola no município
quanto a grande produção de arroz, as terras eram do povo, razão essa
das grandes safras que o município já apresentou (mesmo sendo na forma
primitiva e com as grandes roças sob queimadas).
No
transcorrer dos anos, com a ausência de políticas públicas capazes e
eficientes no setor agrícola que amparasse o homem do campo no
sentido fixá-lo no campo, levou-os a expropriarem –se de suas terras,
vendendo-as a latifundiários e fazendeiros que iam comprando com a
"situação".
v Na relação entre lavradores e comerciantes, muitos
comerciantes enriqueceram, pois os lavradores, através de suas
necessidades básicas vendiam na palha sua produção agrícola como arroz,
em troca das compras e produtos de primeira necessidade como:
querosene, açúcar, foice, machado, cotelo, remédio, roupas e possíveis
empréstimos em dinheiro. Fato este, que levou muitos lavradores a se
endividarem, (tendo consequentemente que se expropriarem de suas
terras).
Independente das "situações" houve também casos de
pressão por parte de latifundiários e fazendeiros que, quando os
agricultores não queriam vender suas terras por livre "necessidade",
eram pressionados a vender por livre "pressão".
Há na educação do
campo a ausência de um currículo disciplinar que eduque os habitantes
para a vida e a função no campo. E para isto, uma ideia que defendo para
o problema da educação rural além da implantação de técnicas agrícolas
na grade curricular, é a implantação de EFAs – Escola Família Agrícola
–que é realidade em muitos estados brasileiros e vem dando certo há
mais de 40 anos. É um projeto que se fundamenta na pedagogia da
alternância e embasa projeto político para a comunidade rural a partir
do papel social da escola. Essa pedagogia e ou projeto valoriza a
história local, modelo cultural e padrão de respeito aos direitos do
homem do campo sem excluí-lo dos benefícios da cidade. Não é simples
pedagogia que se apresenta e sim também, uma ação política para o homem
do campo que se integra nesse modelo.
Todos os livros de Adilson Motta disponíveis no site:
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