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domingo, 13 de outubro de 2013

Linguagem e Contexto Social

                                                                                            Por Adilson Motta, 08/2007


          Percebe-se a inerência entre linguagem e sociedade de modo inquestionável. A história da humanidade é a história de seres organizados em sociedades e detentores de um sistema de comunicação oral, ou seja, de uma língua. A sociolinguística, que se ocupa especificamente das relações entre linguagem e sociedade, define como inquestionável esse binômio sociedade/língua. Acenando com esta mesma definição, Saussure (apud Tânia Maria Alkmin em Mussalim et al.2001, p.23), menciona: "A língua é um fato social, no sentido de que é um sistema convencional adquirido pelos indivíduos no convívio social".
           A língua é um fato social e é um processo. Para Benveniste (apud TÂNIA Maria Alkmim em Mussalim et al. 2001, p.26), "é de dentro da e pela língua que indivíduo e sociedade se determinam mutuamente." E que, é pela utilização da língua que o homem constrói sua relação com a natureza e os outros homens. Prosseguindo, o mesmo autor afirma que "A linguagem sempre se realiza dentro de uma língua, de uma estrutura linguística definida e particular, inseparável de uma sociedade definida e particular".(Idem, p.31).  Para Paulo Freire, linguagem e realidade se prendem dinamicamente.
          Segundo Orlandi (1996, p.13), "A língua, a Ciência e a Política estabelecem entre si relações profundas e definidoras na constituição do sujeito e da sociedade". E é na mesma linha de observação que os (PCNs,1999, p. 140)  afirmam que, com, pela e na linguagem as sociedades se constroem e se destroem.  Já para Baktin (apud Maria de Fátima Sopa Rocha et al) afirma que, a linguagem implica um contexto histórico-social: o homem se transforma num ser histórico e social, segundo ele, a partir dos signos que lhe comunicam o mundo na relação, interação e espaço onde este atua como ser social.  E estes signos são sempre impregnados de ideologia, uma vez que esta reflete e determina as estruturas sociais.
           Entre a sociedade e a língua, de fato, não há uma relação de mera casualidade. Desde que nascemos, um mundo de signos linguísticos nos cerca e suas inúmeras possibilidades comunicativas começam a tornar-se reais a partir do momento em que, pela imitação e associação, começamos a formular nossas mensagens.  E toda nossa vida em sociedade supõe um problema de intercâmbio e comunicação que se realiza fundamentalmente  pela língua, meio mais comum de que dispomos para tal. 
            A realidade da consciência é a linguagem e, são os fatores sociais que determinam o conteúdo da consciência, do conjunto dos discursos, que atravessam o indivíduo ao longo de sua vida, e que se forma a consciência.  Campbell (1996) afirma que os "Mitos são pistas para as potencialidades espirituais da vida humana".  O mundo que se revela ao ser humano se dá pelos discursos que ele assimila, formando seu repertório  de vida.  (...) sob a forma de signos é que a atividade mental é expressa e internamente para o próprio indivíduo.  Sem os signos a atividade interior não existe.  A palavra não é só meio de comunicação, mas também conteúdo da própria atividade psíquica. Tudo está em constante comunicação.
            Nas grandes civilizações, a língua é o suporte de uma dinâmica social,  que compreende não só as realizações diárias entre os membros da comunidade, como também uma atividade intelectual, que vai desde fluxo informativo dos meios de comunicação de massa até a vida cultural, científica ou literária. (PRETI, 1974, p.7).  Desta forma, é cada vez maior o uso dos meios de comunicação com objetivos educacionais e de integração do cidadão à sociedade. Embora possua o direito de votar, o analfabeto sente dificuldade de integração e de exercer plenamente seus direitos de cidadão, em face de não saber ler nem escrever.  Como a escrita é um dos meios de se comunicar mais populares na era moderna, a falta dela faz com que o processo de comunicação do analfabeto, por exemplo, seja prejudicado.
Valorizando a comunicação nas relações sociais, o velho guerreiro (Chacrinha)já dizia: "Quem não se comunica se trumbica!". Pois a linguagem é um instrumento de comunicação cujo objetivo, além de  informar, é persuadir e convencer através das palavras que nascem e ganham sentido no interior  de determinados contextos: "a linguagem, como se sabe, é sempre, em maior ou menor grau, uma forma de persuasão, de levar o outro a aderir a um ponto de vista". (Brait, 1994/1995: 20).
           Os membros de uma nação interligados por traços socioeconômicos e políticos identificam-se e distinguem-se dos membros de outra pelo instrumento de comunicação, a linguagem.
           Estigmatização linguística e mobilidade social se intercruzam. A razão disso é que é muito comum num mero complexo sócio economicamente estratificado, a imposição de norma linguística do grupo dominante, dos setores mais favorecidos e produtivos da sociedade como forma correta ou de prestígio. Nesse sentido é que as estruturas de maiores valores de mercado adquirem prestígio pelo sistema de valores sociais e estéticos adotados, e rejeitam as variantes objetivas.
          Há, no entanto, uma dimensão privativa da língua, que a coloca num plano especial: seu poder coercitivo, que transforma um agregado de indivíduos em uma comunidade, criando a possibilidade da produção e da subsistência coletiva.
         Para Benveniste, a questão da relação entre língua e sociedade se resolve pela consideração de língua como instrumento de análise da sociedade. Ele afirma que a língua contém a sociedade e por isto é o seu interpretante. Esse papel de interpretante é garantido pelo fato de que a língua é "o instrumento de comunicação que é e deve ser comum a todos os membros da sociedade". Mais exatamente: "a língua é necessariamente o instrumento próprio para descrever, para conceitualizar, para interpretar tanto a natureza quanto à experiência" e as relações sociais que perpassam pela linguagem. (BENVENISTE, 1974, p. 99). Além disso, a língua dá forma à sociedade ao exibir o semantismo social, que consiste, principalmente, de designações, de fatos do vocabulário. Particularmente, o vocabulário se apresenta como uma fonte importante para os estudiosos da sociedade e da cultura, pois retém informações sobre as formas e as fases da organização social, sobre os regimes políticos etc. Essa linha de reflexão é exemplarmente representada na obra de Benveniste, Vocabulário das instituições Indo-européias (1969/1970).
           Segundo o referido autor, a língua permite que o homem se situe na natureza e na sociedade; o homem "se situa necessariamente em uma classe, seja uma classe de autoridade ou classe de produção".(BENVENISTE, 1974, p. 101.).
          Benveniste articula a questão da relação língua e sociedade no plano geral da construção do humano e, particularmente, no plano das relações concretas e contingentes estabelecidas na vida social. Para Bagno (2003, p.17), a linguagem apresenta-se como instrumento de valorização para aqueles que a usam, conforme usam: "[...] nós somos a língua que falamos".
Já para Santos (2000, p. 111), se a sociedade está bem ou mal os reflexos de um ou de outro estado se reportam para a linguagem e por ela são expressos. Assim entendido, a realidade social é a da linguagem e vice-versa.

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