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Existem várias lendas, entre elas o mito de Ma´íra que os índios
acreditam ser o criador dos fenômenos da natureza como a chuva, o fogo e
a água. Os índios tupi guaranis acreditam que Ma´íra, o seu protetor, é
criador dos índios. Para eles, o sol e a lua são fontes de vidas e
procuram sistematizar suas vidas através desses dois astros. A lua é
chamada de Zahy por ter brilho frio, inexplicável e o sol é chamado de
Zai Tata que significa fogo, por ter um brilho quente. Os índios ainda
conservam os rituais como a cura da pajelança que é feita pelo Pajé, onde
ele fala com os espíritos para saber se pode ou não tratar a pessoa
que está doente; um índio só sai para buscar assistência médica com
autorização do Pajé. Outro ritual é quando um curumim começa andar,
organizam uma caçada e todas as caças encontradas são usadas em
cerimônia para pedir proteção. Ao curumim pintam-no com líquido
retirado do jenipapo verde que fica de cor preta e com o urucum, após
enfeitado com penas da arara juba, do pica-pau do tucano e plumagem de
socó; da carne das caças são feito um angu com farinha azeda que é
dada ao curumim. A noite todos cantam ao som do maracá, o Pajé usa uma
liturgia para falar com os antepassados e pedir proteção ao curumim.
Os casamentos indígenas eram feitos através de uma negociação entre os
pais dos noivos, onde as crianças eram separadas uma para o outro, sendo
a criada pelo pai dos noivos, até a primeira menstruação quando é feita
uma grande festa, onde a moça é pintada todo o corpo e então está pronta
para casar. O homem só está pronto quando muda a voz, após o
casamento não pode haver separação. Um fato curioso éque um homem pode
namorar várias mulheres ao mesmo tempo, convivendo na mesma casa
pacificamente.
Anteriormente quando um índio morria
era colocado dentro de um buraco sentado e nunca mais seus familiares
passariam por aquele lugar, pois acreditavam que os espíritos que o
matou poderiam matá-los. Este era o motivo de serem nômades.
Os índios não tiravam fotos, pois acreditavam que a alma das pessoas
fotografadas ficaria presa ao papel, e por este motivo morreriam.
Hoje, a aldeia Januária vive em condições tipicamente normais como os
chamados brancos; ainda conservam muitas lendas e mitos, porém a maior
parte dos valores antigos foram deixados de lado. Já não são nômades,
convivendo assim com seus mortos em suas sepulturas.
Lendas e mitos dos Guajajara
O encanto do ouro
"Havia um casal de índios meus antepassados, que recebeu do Governo uma
fábrica depara fazer dinheiro. Moedas de ouro. Aí os brancos souberam e
começaram a aperrear os índios. Sendo que estava morrendo muita gente
por causa disso, o velho índio, dono da fábrica, e a mulher dele
decidiram acabar com a fábrica e a jogaram num poção chamado de Mineiro
Velho. Quanto ao dinheiro, eles enterraram os dois baús e dois fornos
na boca de um igarapé que fica entre a boca do Caru e o atual povoado
Novo Caru.
Os brancos prenderam o casal e o levaram
não sei para onde. Mas o velho índio e a mulher nunca revelaram o
segredo e morreram por lá. Alguns índios foram atrás da velha índia
empregada do grande chefe, dono da fábrica. Ela também conhecia o
segredo. Estes índios, novos, (novo não é gente), levaram a velha, de
canoa, próximo do lugar. A velha tinha revelado que os caixões estavam
com armas carregadas de maneira que quem mexesse morreria. Então
precisava uma reza muito forte para poder desarmar os caixões. A velha
foi, rezou, mas escutou os índios, que esperavam na canoa, dizer que iam
matá-la depois de pegar o ouro. Então a velha castigou os moleques.
Pronto, nunca mais.
Eles pegavam o ouro lá numa
serra do Caru. Havia uma grande pedra luminosa que clareava as
redondezas. E no chão muitas pedras. Eram como tantas faíscas. Os índios
brincavam com as pedras jogando-as um contra o outro. Os brancos
souberam e foram atrás das pedras dos índios. Começaram a trocar pedras
por facas e outras coisas. Um belo dia os brancos quiseram olhar a grande
pedra luminosa. Alguns índios os levaram para ver. Mas a serra
encantou-se: nunca mais a acharam.
Ma´íra, criador dos Tenetehara
"OsTenetehara se referem aos sobrenaturais pela designação genérica
karowara, porém os distinguem em menos quatro categorias: criadores ou
heróis culturais, a quem atribuem a criação e transformação do mundo; os
"donos" da floresta e das águas e dos rios; os azang, espíritos
errantes dos mortos; espíritos de animais. Os heróis culturais são
sobrenaturais, porém não no sentido de divindade que seja necessário
propiciar e reverenciar - são criadores cujos efeitos lendários
explicam a origem das coisas e do homem. Na mitologia são descritos
como homens dotados de imenso poder sobrenatural. Viveram algum tempo
na terra, que abandonaram pela residência eterna na "aldeia dos
sobrenaturais" (Karowara-nekwawo). Os heróis culturais criaram o
homem, deram-lhe conhecimento das causas e trouxeram-lhe os alimentos.
Hoje, porém, estão demasiado distante e já não dominam o homem e o
mundo em que ele vive.
Ma´íra é o mais importante desses heróis.
Segundo a lenda, ele viajou pela terra em buscada "Terra Bonita"
(ywyporang). Onde encontrou o lugar ideal, aí criou o homem e a mulher. O
casal vivia em condições ideais até que Ywan, o dono da água, atraiu a
mulher e copulou com ela. O homem ignorava o coito até que Ma´íra lhe
mandou ver o que acontecia à mulher.
Ma´íra, após o homem e a
mulher terem procriado, falou-lhes: "de agora em diante, vocês terão um
filho e morrerão, o filho de vocês terá um filho e também morrerá".
Ma´íra ensinou ao homem a plantar mandioca e a fazer farinha. No
princípio a mandioca se levantavapor si mesma e amadurecia em um dia;
porém a humanidade duvidou de Ma´íra e ele, em represália, fez a
mandioca amadurecer lentamente. Hoje os Tenetehara têm que esperar todo
o inverno para colher as raízes e, para seu plantio, é grande o esforço
de derrubar a mata e preparar a roça. Ma´íra trouxe algodão e ensinou
como tecer as redes; roubou o fogo aos urubus e ensinou o homem a assar
carne, ao invés de deixa-la secar ao sol. Cansado de viajar pela terra,
Ma´íra retirou-se para Karaowawo onde ainda hoje vive uma vida de
abundância. Antes de Ma´íra, os Tenetehara não sabiam nada,eram bestas"
(Galvão e Waglei apud Ubialli 1997).
Pelas façanhas,
portanto, Ma´íra foi o maior pajé e o maior guerreiro da terra pois ele
possuía poderes imensuráveis, criando e dominando os homens e a
natureza.
Ma´íra ainda representa, talvez a nível de
inconsciente, um certo ideal para os Tenetehara cuja maior aspiração é
transferir os poderes dele para seu próprio domínio. Na festa do
"moqueado",durante a qual os rapazes, que celebram a passagem da
infância para a idade adulta, são iniciados a serem pajés e guerreiros,
transparece o anseio profundo dos Guajajaras de adquirir o domínio
sobre a natureza e os homens.
Coisa que nunca
acontecerá de forma perfeita assim como se realizou em Ma´íra, porém
sempre sobejará como ideal a ser alcançado pelos Tenetehara.
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