Adilson Motta, 05/2011
A
política neoliberal como estratégia de Washington foi eficiente em
muitos países no sentido de se apossar das riquezas destes e, ao mesmo
tempo consolidar as bases do sistema capitalista tornando mais remota as
possibilidades de um mundo socialista - ao disseminar a ideia da
política neoliberal onde o coorporativismo e empresas internacionais,
assim como grupos privados: bancos e outros meia dúzias se apossaram da
fabulosa riqueza do povo brasileiro na fanfarra das privatizações.
As
privatizações, além de ser um fator de alta concentração de renda, e
reduzir a autonomia do país sobre seus recursos, atinge em cheio sua
soberania; e é percebido que grande número de acionistas são empresas
estrangeiras. Poderíamos dizer: é um novo estilo de colonialismo
"democrático" que se instala no bojo de uma política neoliberal sem o
consentimento do povo brasileiro. Cujo domínio se dá sem armas e sem
derramamento de sangue. Só nas sutilezas de "acordos democráticos e
imposições de entreguistas" e diplomacias maquiavélicas. Nossa fraqueza
maior frente ao "entreguismo" que acontece se deu no problema que mais
assola o país: a corrupção. A corrupção brasileira, um caso quase
endêmico é uma arma a favor do "grande capital internacional" que
utilizando-se da "flexibilidade" quanto a corrupção de muitos de nossos
homens públicos conseguiram através das privatizações se apossar do
ponto mais estratégico que seria a saída para um Brasil "1º mundo".
Os
países privatizam empresas deficitárias, o Brasil fez o contrário:
privatizou suas empresas que geravam e geravam lucro e que eram
estratégicas para o desenvolvimento do país. É o caso da CSN (Companhia
Siderúrgica Nacional), que em 2007 obteve lucros recordes de R$ 2,6
bilhões e a Vale, cujo lucro previsto para 2008 (com a alta dos minérios
65% e de Carajás de 71%), US$ 31 bilhões (acima de R$ 62 bilhões).
Os governos estão privatizando porque o FMI assim "quer" pela política
neoliberal do governo americano que assim determina quando achar(-va)
conveniente seus interesses. Analisando o impacto da política
neoliberal, na história da política brasileira, veja o que observa Ivo
Lesbaupin, (entrevista IHU On-line em 09/2007):
"Desde a
introdução das políticas neoliberaisentre nós, a partir do governo
Collor, o país vem sendo governado como se o povo não existisse. O
povo é consultado nas eleições, mas, em seguida, o governo eleito age em
totaldesconsideração do programa em que o povo votou. A políticaé
aquela que atende aos interesses do capital financeiro, dos bancos, e
dos rentistas, e do grande empresariado. A mídia expressa o pensamento
destes setores."
"O lucro anual do Banco Itaú foi de R$ 3,8
bilhões, o Banco do Brasil anunciou um lucro de R$ 3 bilhões, o
Bradesco, de R$ 3,1 bilhões, e o Unibanco, de R$ 1,3 bilhão" em 2004.
(O Estado de S. Paulo - Estadao.com.br, 23/02/05).
No entanto, em
27/10/2010, segundo Folha.com, apenas no 3º trimestre, o Banco Bradesco
obteve um lucro de R$ 2,527 bilhões. Numa projeção de de R$ 7,12
bilhões anual.
O lucro desses quatro bancos, que totalizavam 11,2
bilhões R$ não é nem a metade do lucro da VALE DO RIO DOCE
(privatizada)após o aumento dos minérios em 2008, previsto para 20
bilhões US$. Onde só Carajás vai render cerca de 9 bilhões US$.
No
entorno do projeto, situa-se a cidade de Parauapebas, (133.000
habitantes, 2007), onde se localiza a maior reserva de minério à céu
aberto do mundo) e o visível contraste da pobreza e ausência de
infraestrutura em suas periferias.
Precisa-se de uma CPI
para investigar a origem e descaminho de tanto dinheiro público,
afinal, 68% das empresas públicas foram privatizadas. E PARA ONDE FORAM
CANALIZADOS OS RECURSOS?
Diante da dilapidação dos
recursos da nação, a sociedade brasileira, assim como muitos de seus
representantes no Congresso, que não sabem a origem e descaminho de
tantos recursos. Veja o que diz o deputado Federal Mauro Passos (in
Revista da Câmara dos Deputados, 2006, p.9), quando questiona sobre o
problema da privatização da Vale do Rio Doce (C.V.R. D) que foi vendida
no valor de R$ 3,338 bilhões (menos de um bilhão e meio de dólares), a
preço de barganha ou mesmo de corrupção, quando na avaliação de um
ex-diretor da empresa, estaria valendo em torno de 100 bilhões de reais.
"E
não somente nós (deputados), mas todos os brasileiros desconhecem para
onde foram canalizados os recursos oriundos das privatizações".
Especialistas
apontam que, na verdade, esse tesouro que a empresa detém (como direito
de exploração de lavras) vale mais de 3 trilhões de dólares.
O
preço que o Tesouro Nacional do Brasil recebeu pela venda do controle
acionário da empresa Vale equivalia em 2008, a 4,7% do lucro anual da
companhia. Em 2008, com a alta dos minérios (71% o de Carajás), seu
lucro gira em torno de US$ 31,1bilhões (em torno de 69,9 bilhões de
reais); – ou, 20,6 vezes o valor de sua privatização em 1997. Diante de
tais grandezas e absurdos do que foi "subtraído da nação", isto veio
fortalecer a campanha organizada, onde movimentos sociais e partidos
políticos pugnaram pela imediata reestatização da empresa", resultando
num plebiscito em setembro de 2007 promovido pelos movimentos sociais do
país – no sentido de sensibilizar os governos que até agora nada
fizeram quanto ao problema, inclusive o governo (PT) que se elegera com
esta bandeira, falando contra as privatizações.
Se confirmado for
o fato, é um crime de responsabilidade fiscal cometida e mantida
ilesa. É o que diz a Lei Fiscal em seu Art. 10 "Constitui crime de
improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou
omissão, dolosa ou culpada, que enseje perda patrimonial, desvio,
apropriação, malbarateamento ou dilapidação dos bens..ou...haveres...".
Nesta
aquisição, segundo o Jornal de Fato, (8/2/2007 p.2), o capital
estrangeiro detém 64,9% de ações (não tem direito a voto, mas tem de
lucros, que é o essencial). O resto conquista com o tempo, com o status
de "multinacional".
A privatização, segundo Folha
Online, 07/2007,é considerada o maior caso de corrupção da história da
humanidade. Segundo pesquisas particulares, apenas Carajás, que tinha
previsão de exploração por 400 anos, - hoje caiu para 200 – devido a
velocidade e ampliação como a empresa está atuando, vale mais de US$ 1
trilhão (afinal, são 200 anos de exploração mineral noite e dia! Com
revesamento de turnos entre os funcionários da empresa.
O império
Romano foi condenado pelos maus políticosque, empenhados nas intrigas e
ganâncias palacianas, descuidaram das guarnições fronteiriças
responsáveis durante séculos por manter os bárbaros a distância. Já
no caso da República Brasileira, o empenho na corrupção, a intriga
interna pelo poder transitórioe as infiltrações de interesses
internacionais sobre as riquezas nacionais é uma tendência de "risco"
via "lobismo"- político de expropriação de nossas riquezas. Isso é um
ALERTA!
QUEM FICA COM O LUCRO DA VALE?
64,90% –Acionistas estrangeiros
31,60% – acionistas brasileiros
3,3% - Participação do governo
Fonte: Brasil de Fato, 09/2007.
CONSEQUÊNCIAS:
Tensões sociais, desajuste e conflitos na região Carajás onde se localiza a maior reserva de minério de ferro do mundo.
O
valor de mercado da VALE (obtido pela multiplicação do número de ações
pela cotação em Bolsa) chegou a R$ 303,5 bilhões em 1/10/2007,
superando, por alguns dias, a Petrobrás, que naquela data valia R$ 290,4
bilhões. Em junho de 2008, a Petrobras valia R$ 473,2 bilhões. E o
"tucano" também pretendia torrá-la na eira das privatizações.
Veja também o que afirmou a ex-Senadora e ex-governadora do Estado do Pará Ana Júlia Carepa (in Diário do Senado Federal):
"Não
podemos deixar de falar sobre os feitos do federal tucano que, segundo o
balanço das privatizações feito pelo BNDES,de 1991 a 2001 privatizou
68 empresas públicas federais, 75% de todo o patrimônio nacional.
Dentre as estatais vendidas, a Vale é um desses patrimônios; o qual
foi construído durante décadas, às custas do trabalho de toda nossa
sociedade. E aqui podemos relembrar algumas justificativas
emblemáticas dadas pelo governo FHC para dilapidar o patrimônio da
nação: "A privatização diminuirá o déficit fiscal", "com a privatização o
governo liberará mais recursos e terá mais capacidade gerencial para a
área social"; ou " com o recurso das privatizações, o governo
brasileiro reduzirá a dívida do país".
E nada aconteceu; ao
contrário, a dívida pública no final de seu mandato apenas cresceu, e
não houve prestamento de conta com a nação nem congresso, acerca de onde
foi embutido essa montanha de dinheiro.
Contestando o
ato lesivo contra a Nação Brasileira, veja o que diz Álvaro Queiroz em
"O fracasso das privatizações" (02/12/2001):
"Em 10 anos, cerca
de 160 empresas foram vendidas, depois de avaliadas à luz de critérios
supostamente técnicos, mas conduzidos com o propósito de evitar-lhes os
preços. Todo o setor siderúrgico, o segmento petroquímico da indústria
do petróleo, a Vale do Rio Doce, o complexo das telecomunicações, bancos
estaduais, ferrovias, unidades de fertilizantes, empresas de energia
elétrica etc. – um patrimônio avaliado em mais de 2 trilhões de
dólares(estatais da união e dos estados) foi transferido pelo valor
simbólico total de apenas 100 bilhões de dólares, aí já arroladas as
pequenas dívidas externas de algumas das empresas, inferiores aos
lucros."
Na reportagem da Globo (As riquezas minerais da Amazônia,
20/05/2010), o engenheiro que criou Carajás , Eliezer Batista
reconhece que houve um erro estratégico no projeto: não prevê um polo
industrial ao lado da mina.
"A ideia original nossa não era só
vender minério de ferro,nós sempre acreditamos que você tem que agregar
valor em todo produto. Nenhum país fica rico vendendo matérias-primas ou
commodities".
A título de exemplo vale lembrar:o segredo do
crescimento chinês que gira em torno do binômio industrialização versus
exportação.
Você sabia que...
O lucro da Vale
em 2008 foi de R$ 21,279 bilhões. Enquanto isto, a pobreza e
concentração de renda no Brasil cresce. Este lucro durante um ano daria
para manter o orçamento do estado do Maranhão com seus 217 municípios,
cujo orçamento (2007) foi de 6,1 bilhõesdurante 3,4 anos (três anos e
quatro meses).
Essa enorme riqueza que vai para fora
do Brasil é fabulosa, o que fica demonstrado nos lucros da Vale citado
acima. Segundo o INEP,a erradicação do analfabetismo no Brasil
exigiria 200 mil educadores. Esses alfabetizadores ganham apenas (R$
420,00) como salário. O gasto de pessoal dos 200 mil educadores por ano
(considerando12 meses) corresponderia a R$ 1,008 bilhão. Considerando
o lucro da Vale em 2007, isto daria para erradicar 21,1 vezes o
analfabetismo do país.
Compatibilizado com a política
neoliberal do "entreguísmo", O TUCANO deixou uma lamentável herança,
hoje contestada pela sociedade que no momento não foi consultada,
privatizou também estradas federais (construídas com recursos da
nação/União). Política essa, retomada pelo seu sucessor. Veja abaixo o
que daria para se fazer com o lucro das concessionárias (ESTRADAS
FEDERAIS) apenas do Paraná:
O que dá para fazer com R$ 8,1 bilhões:
Casas – R$ 15 mil cada – 540 mil
Creches – R$ 300 mil cada – 27 mil
Escolas – R$ 1 milhão cada – 8,1 mil
Postos de saúde – R$ 300 mil cada – 27 mil
Bibliotecas – R$ 250 mil cada – 32,4 mil
Ginásios de Esporte – R$ 355 mil cada – 22.816
Barracão Industrial – R$ 145 mil cada – 55.862
Pavimentação – R$ 260 mil cada quilômetro – 31.153 quilômetros
Carros Populares – R$ 23,5 mil cada – 340.425
Ambulâncias – R$ 64,7 mil cada – 125.193
Caminhões – R$ 88 mil – 92.045
Trator 50 CV –R$ 40 mil cada pelo custo do Programa Trator Solidário – 200 mil
Trator 75 CV – R$ 47,5 mil cada pelo custo do Programa Trator – 168.421
Sacas de Soja – R$ 36 cada – 225 milhões
Cestas
básicas – R$ 83,00 cada, preço de mercado, sem considerar que em
eventual licitação o preço seria muito inferior – 96.385.542
Seguro-Desemprego – benefícios em um mês a R$ 776,46 cada – 10,5 milhões
Bolsa-Família
– em um mês a R$ 54 por família, com o pagamento de R$ 18,00 por filho,
com o limite de três filhos por casal – 177 milhões.
Fonte: http://www.projetodelei.com.br/ 30/06/2009
Achamada
por seus cidadãos de "A capital internacional do minério", onde se
localiza Carajás, a mais rica província mineral (especialmente de
ferro) a céu aberto do mundo e próximo a seus limites territoriais, a
maior reserva de cobre do Brasil, com um potencial de 8 toneladas de
ouro a cada 200 toneladas de cobre..
Contrastando também com a
grande riqueza mineral que enriquece os cofres da empresa, a equipe de
reportagem do Jornal O Regional, (em 11/2008) se deparou com uma
situação triste entre tantas não focadas pela mídia, onde duas crianças,
que aparentavam ter entre dois e três anos de idade, estavam revirando
sacolas de lixo que estavam na esquina da Rua Apóstolo Pedro.
Para melhor esclarecer os malefícios da privatização, é necessário nos perguntarmos:
Quem lucrou com as privatizações?
No
segundo semestre de 2008, segundo Altamiro Borges (Artigo 31/07/2008),
as multinacionais enviaram às suas matrizes US$ 18,99 bilhões em
lucros(o equivalente a mais de R$ 37 bilhões), um crescimento de 94% em
relação ao mesmo período do ano passado. Esse valor corresponde a quase
três vezes o orçamento do Bolsa família em 2008, que foi de R$ 10,4
bilhões. O que o governo Lula destinava ao programa bolsa família que
atendia cerca de 40 milhões de pessoas.
Segundo pesquisa de Valdo
Albuquerque, do jornal Hora do Povo, a ausência de controle sobre a
remessa de lucro das multinacionais tem penalizadoduramente o país,
sendo o principal fator de aumento do deficit. Nos últimos cinco anos,
em pleno governo Lula, os dólares enviados ao exterior quintuplicara:
US$ 5,7 bilhões em 2003; US$ 7,3 bilhões em 2004; US$ 1,7 bilhões em
2005; US$ 16,4 bilhões em 2006; US$ 22,4 bilhões em 2007. Em 2008, em
apenas 6 meses, as remessas de lucro se aproximam do que foi enviado
durante todo o ano passado.
"Nunca houve nação algumado mundo em
que o desenvolvimento nacional se fizesse com base no capital
estrangeiro. - Sempre visando ‘atrair investimento estrangeiro, como
cita o governo'(grifo meu) - Ele pode dar alguma contribuição – desde
que esteja submetido a limites que, inclusive, disciplinem a remessa de
lucro ao exterior, ou seja, desde que esteja legalmente subordinado ao
interesse nacional do desenvolvimento. Mas jamais ele pode ser a base
desse desenvolvimento. Até porque, se fosse a base da economia,
acabaria fazendo as leis, dominando o parlamento e o governo – para não
falar da mídia – em interesse próprio, que não é o de desenvolver o país
no qual se instala, mas enviar lucros para a sede. Em suma, remeter
recursos da filial para a matriz. Para isso servem as filiais – e por
isso tem esse nome", concluiu o autor.
A China e o Vietnã, que
não entraram na onda neoliberal, e preservaram suas principais empresas
estatais, estão crescendo a taxas de mais ou menos 10%ao ano, enquanto
que o Brasil não consegue nem chegar a 5%.
O plebiscito
é a oportunidade de o povo expressar sua vontade, de torná-la
conhecida. É uma prática de democracia direta. Seria o caso de lembrar
aqui que democracia é o regime da soberania popular: quem detém o poder é
o povo – "Todo poder emana do povo..." -, os eleitores são
representantes da vontade popular. Mas não é isto que ocorre: então, o
plebiscito é um meio para permitir que o "soberano" expresse sua
voz.
Pesquisas independentes, Adilson Motta
Nenhum comentário:
Postar um comentário