Adilson Motta, 10/2011
A Revolução Industrial foi a contrapartida para avanços, mudanças e
descobertas em todos os segmentos sociais – levando a reestruturação e
reconfiguração das relações, assim como a redefinição das instituições,
frente às mudanças técnicas e a emergente globalização que vai moldando
relações, costumes e culturas.
Se por um lado houve realização e
avanços quanto a novas técnicas, por outro, a grande lacuna não
preenchida pela frustração e utopia, e o surgimento de novos desafios
brotados a partir daquilo que para todos parece ser as "novas
conquistas", as saídas – resultantes do avanço científico, tecnológico,
investimentos em pesquisas e a universalização do conhecimento. E maior
perspectiva de construir o novo e as mudanças se tornam possíveis,
frente a rede universal e integrada: INTERNET.
Segundo Buarque (2009), o final do século XX não se apresenta como um grande êxito civilizatório a se comemorar.
Para
Buarque, a modernidade técnica foi plenamente realizada, mas que a
modernidade utópica não foi realizada em nenhuma parte do planeta.
O
mesmo autor relata que, foi somente a partir dos anos 60, a partir de
quatro fatores foi que surgiram as primeiras dúvidas concretas sobre a
eficiência civilizatória das técnicas, que são:
- · Primeiro, a ocorrência de fatos como a tragédia de Minamata, no Japão, mostrando o risco das técnicas; o que era restrito ao risco da explosão nuclear, em caso de guerra, passa a ser também uma preocupação em tempos de paz devido ao processo industrial.
- · Segundo, a disponibilidade de dados estatísticos em escala mundial, a elaboração de modelos matemáticos com dados sistemas globais e o potencial de processamento de dados pelos grandes computadores permitiram observar a gravidade dos efeitos ecológicos e os limites ao crescimento econômico;
- · Terceiro, a consciência do reduzido espaço da terra fotografada de naves espaciais.
Quanto
a constatação da crescente desigualdade que se manifesta no mundo a
partir dos anos 80, com a integração econômica e cultural
internacional e as desintegrações sociais e nacionais.
Entre as
variáveis utópicas ou metas não atingida no paralelo às realizações
técnicas, há um vazio humanitário que precisa ser preenchido, debatido,
discutido e transformado em metas de políticas públicas, frente as
problemáticas emergenciais que surgiram, seja por conseqüência de novas
formas de consumos, e novos métodos de produção de larga escala que
requer matérias primas além dos horizontes extrativistas, e a automação
ou robotização industrial, que gerou desempregos.
As metas
humanitárias: produção – consumo não contemplam no universo da política
global o desenvolvimento sustentável visando a preservação e a
perspectiva das gerações vindouras, da natureza, nem da atual nos
possíveis impactos e conseqüências.
A ganância das corporações,
que agrega o grande capital internacional não contempla a ética da
preservação e "amordaça" governos – impossibilitando ações de cunho
social ou condizente com os interesses difusos e coletivos em
benefícios de uma minoria. Uma prova desse descompromisso por parte
daquele (s) que "gerencia(-m)" e manipula(-m) a política internacional,
controlando governos através de grandes empresas controladas, aconteceu
em Copenhague, onde as metas da política global em prol da preservação,
equilíbrio e a vida no planeta foi relegado em favor do lucro e
interesse de grandes empresas que só pensam no lucro na sobra de um
governo eleito para representá-los.
Em um mundo em franco
processo de integração e em um Brasil com séculos de relações intensas
com o exterior, não há modernidade isolada. Frente ao exposto, Buarque
(2009), afirma que o Brasil não pode cair na ingenuidade de se negar a
receber capital estrangeiro, que pode ajudar no seu projeto de
modernidade, ainda menos na estupidez de imaginar que deste capital virá
solução para os problemas nacionais.
Em Buarque (2009), afirma-se
que o abandono à educação, embora concentrado nas classes pobres, está
gerando uma sociedade que incomoda a todos, uma ineficiência que
dificulta o funcionamento global da economia e da sociedade. A
manutenção da ordem e a proteção do patrimônio e da segurança pessoal
custam aos ricos e quase-ricos do Brasil manter uma força
militarizada quase do tamanho do próprio Exército, sob a forma de
vigilância privada.
Quanto a democracia no Brasil, o mesmo autor afirma que:
A
democracia brasileira não avançou porque ela não conseguiu dar o passo
fundamental de sair da organização corporativa para uma organização
social e nacional. O Congresso tem toda liberdade, mas seus deputados
quase sempre foram eleitos e representam grupos corporativos, perdendo a
capacidade de ver, entender e representar interesses da sociedade em
geral e, especialmente, das camadas marginalizadas. Os sindicatos,
patronais e trabalhistas, passaram a ser vistos como elementos de
democratização, quando eles representam apenas a parte integrada na
modernidade e tomam quase sempre decisões contra os interesses das
grandes massas.
O maior exemplo, porém, da democratização
emperrada na corporativização está na "democracia" dos meios de
comunicação social, que foi capaz de eliminar a censura, permitir o
livre debate, mas manteve rádios e televisões subordinados aos
interesses do lucro ou da manipulação de opinião por parte de seus
proprietários, que, livre da censura estatal, exercem suas próprias
censuras. Diretamente para censurar, manipular, ou indiretamente para
que os meios de comunicação sejam apenas elementos de geração de lucros,
e não de participação, de educação e de promoção cultural.
Não
funcionará uma estratégia de democratização que não elimine a
corporativização da sociedade e que não ponha os meios de comunicação
livres do Estado e também do controle por parte de seus proprietários. A
construção da democracia vai exigir mudanças no sistema eleitoral, no
sistema de governo e também nos compromissos e no papel do sistema de
telecomunicações.
Espraiado nos acontecimentos, verifica-se
na atualidade, que a relação ideológica de dominação e manipulação não
são instrumentos apenas de poderes políticos instituídos. Existe um
poder bem maior que controla e influencia tanto setores políticos
quanto os caminhos no destino de uma nação chamado MÍDIA.
Onde o monopólio dos meios de comunicação de massa e a influência do
poder político sobre a mídia são fatores que comprometem a existência de
uma opinião verdadeiramente pública no país. É nesse sentido que se
afirma que a mídia é o mais poderoso instrumento de
formação de opinião pública. Peguemos como item comprobatório apenas a
eleição de 1989, na farsa do "caçador de marajás" enfeitado na mídia
para ganhar opinião pública e com isso a eleição de um país, como
aconteceu. Os meios de comunicação mostraram seu poder, ou seja: deram
uma aula de como se "fabrica um candidato".
Informação é
poder, eles (políticos) sabem disso. Não é à toa que, segundo o Projeto
Donos da Mídia – que lidera um grupo de pesquisadores, (09/2008), o
número de políticos donos de Rádio e TV no Brasil cresce. Os números
mostram que já são 271 os políticos brasileiros que são sócios ou
diretores de 348 emissoras de Rádio e TV. Desses, 147 são prefeitos
(54,24%), 55 deputados estaduais (20,3%), 48 deputados federais
(17,71%), 20 senadores (7,38%) e um é governador. Fora aqueles que
colocam suas emissoras em nome de parentes, amigos ou "testas-de-ferro".
Esta
realidade terá de mudar. Uma estratégia para a modernização ética
exige formas de manter a liberdade dos meios de comunicação, e evitar
todo monopólio inclusive por parte do Estado, mas garantir o direito
social de acesso à televisão e rádio. Exige sobretudo, que o tempo
destes veículos tenha um compromisso educativo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BUARQUE, Cristovam. Da modernidade técnica à modernidade utópica, 2009.
MOTTA, Adilson. Linguagem e exclusão social. Monografia apresentada ao Curso de Letras da UFMA (Universidade Federal do Maranhão), 2005.
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